Mosaico de Pensamentos e Textos

sábado, novembro 26, 2005

Palavras


As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição.

Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e pra brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro.

É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado pra dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido.

Nada é mais fúnebre que a palavra fúnebre.

Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra.

Nada é mais concreto do que as letras c.o.n.c.r.e.t.o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias.

A palavra nuvem, chove.

A palavra triste, chora.

A palavra sono, dorme.

A palavra tempo, passa.

A palavra fogo, queima.

A palavra faca, corta.

A palavra carro, corre.

A palavra palavra, diz o que quer. E nunca desdiz depois.

As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e ponto.

As palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas.

A palavra juro não mente.

A palavra mando não rouba.

A palavra cor não destoa.

A palavra sou não vira casaca.

A palavra liberdade não se prende.

A palavra amor não se acaba.

A palavra idéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia.

Palavras sempre sabem o que querem.

Quero não será desisto.

Sim nunca jamais será não.

Árvore não será madeira.

Lagarta não será borboleta.

Felicidade não será traição.

Tesão nunca será amizade.

Sexta-feira não vira Sábado nem depois da meia-noite.

Noite nunca vai ser manhã.

Um não serão dois em tempo algum.

Dois não serão solidão.

Semente nunca será flor.

(Adriana Falcão)