Mosaico de Pensamentos e Textos

sábado, dezembro 31, 2005

Ave Maria


Ave Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
ouvi a prece tirada
no meu peito da amargura.
Vós que sois cheia de graça
escutai minha oração,
conduzi-me pela mão
por esta vida que passa.
O Senhor, que é vosso Filho,
que seja sempre conosco,
assim como é convosco
eternamente seu brilho.
Bendita sois vós, Maria,
entre as mulheres da Terra
e voss'alma só encerra
doce imagem d'alegria.

Mais radiante do que a luz
e bendito, oh Santa Mãe
é o Fruto que provém
do vosso ventre, Jesus!
Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
e que morais lá no céus,
orai por nós cada dia.
Rogai por nós, pecadores,
ao vosso Filho, Jesus,
que por nós morreu na cruz
e que sofreu tantas dores.
Rogai, agora, oh Mãe querida
e (quando quiser a sorte)
na hora da nossa morte
quando nos fugir a vida.

Ave Maria, tão pura
Virgem nunca maculada,
ouvi a prece tirada
no meu peito da amargura.
Entregue suas dores e alegrias a Maria...
Ela as entregará a Jesus ! ...
Confia na Mãe querida !
Que Nossa Senhora abençoe você
e sua família !

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Ano Novo

E o milênio vai virar
Seja lá em que direção
Muitas pedras vão rolar
Não se vive só de esperteza e diversão
Ideais vão despertar
Utopias vão renascer
Os valores vão mudar
Não há ordem perfeita imune à erosão
E na contra-mão da festa dessa multidão
Uma tribo estranha ainda resta
Mesmo dispersa na ilusão dos poetas
A vida se projeta em cada olhar ...

Onde você vai estar
Com quem vai dividir as lágrimas
Da esperança
E não basta chorar
O que você vai fazer
Pro ano novo ir muito além
Dos fogos que se lança

Mais que um corpo pra cuidar
Mais cabeça que um visual
Para o jovem se engajar
Pelo meio ambiente ou causa social

Na contra-mão...

(Guilherme Arantes)

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Se ...

Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria acesso ao sentimento de amar a vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora...
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável:
Além do pão, o trabalho.
Além do trabalho, a ação.
E, quando tudo mais faltasse, um segredo:
O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.

Mahatma Gandhi

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina

domingo, dezembro 25, 2005

Invente seu Natal!


Faça algo diferente!

Faça o melhor que puder

Com aquilo que tiver!

Enfeite-se, alegre-se.

Se não tem dinheiro,

Encha seu coração de amor!

Seja a própria árvore

Com bolinhas coloridas

E muito riso!

O calor que emana do seu abraço

Dinheiro nenhum no mundo

Poderia comprar.

Dê um abraço, um sorriso,

Um te gosto, um te amo...

...Seja você o presente!


(Leticia Thompson)

domingo, dezembro 18, 2005

O último dia de vida


Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora deitar muito tarde. Também não havia dormido bem. Tinha tido um sono agitado. Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal dormidas. Nem sequer percebeu um aglomerado de pelos teimosos que escaparam da lâmina de barbear. "A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.

Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um "bom dia", sem convicção. Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento. Não entendia por que ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava?
Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu a partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos, "detalhes tão pequenos de nós dois..." Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida. Anos atrás, gostava de assistir ao programa de Roberto Carlos nas tardes de domingo. Mas isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.

Pegou o telefone celular e ligou para sua filha. Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e o convidou para almoçar. Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível. Quem sabe no próximo final de semana? Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder estar com ele na hora do almoço. Mas ele foi irredutível: realmente, era impossível.

Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde. Nem observou que tipo de lanche estava mastigando. Enquanto engolia relacionava os telefones que deveria dar, sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou. Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up. Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria resolvido com um café forte, sem açúcar.

Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa. "A vida continua", pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saía como ele queria. Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar resultados. Será que o gerente não conseguia entender isso?
Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da terra, e não no subsolo do prédio.
Entrou no carro, deu partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal-estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu... os outros carros também... Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem. Era como se o videocassete estivesse rodando em câmara lenta. Quadro a quadro, ele via esposa, o netinho, a filha e, uma após outra, todas as pessoas que mais gostava.
Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não foi pescar com os amigos no último feriado? A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.

Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... queria... queria... mas não deu tempo...

(autor desconhecido)

sábado, dezembro 17, 2005

Para os Deuses


Para os deuses as coisas são mais coisas.
Não mais longe eles vêem, mas mais claro
Na certa Natureza
E a contornada vida...
Não no vago que mal vêem
Orla misteriosamente os seres,
Mas nos detalhes claros
Estão seus olhos.
A Natureza é só uma superfície.
Na sua superfície ela é profunda
E tudo contém muito
Se os olhos bem olharem.
Aprende, pois, tu, das cristãs angústias,
Ó traidor à multíplice presença
Dos deuses, a não teres
Véus nos olhos nem na alma.

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Se eu morrer antes de você...

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:

Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.
Se não conseguir chorar, não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
"Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!"
- Aí, então derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus.
Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Então ore para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu...


"Ser seu amigo... já é um pedaço dele..."


(autor desconhecido)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Portas entreabertas


Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.

Flora Figueiredo (Calçada de Verão)

terça-feira, dezembro 06, 2005

Brasil, Terra da Esperança




Você reclama do seu país,
Mas já parou para pensar,
Que terremotos não há,
Nem vulcões, furacões.
Terra abençoada pelo céu.
Coração do mundo.
Dona do pão e do mel.

Eu sei que a dor é grande,
Mas a batalha é da gente.
Plantar agora a semente,
Vem cuidar dessa flor.
Verdadeiramente brilhar
Nossa luz interior.

E lá no céu azul, a marca da vitória
Cruzeiro do Sul.
Quem tem amor não cansa
De amar o Brasil,
A Terra da Esperança.


(Haroldo Mendonça)