Mosaico de Pensamentos e Textos

quinta-feira, julho 26, 2007

Desencantos

Ah ...te dizer como?!...
Como te contar da saudade
Que sinto e que não sei de
Que ou de quem?

Noite após noite...
Dia após dia a sensação de
Que algo virá...
E nada surge no horizonte...

Como dizer
Se nem eu entendo e
Como ouso pensar que
Alguem entenderá?

Fico esperando a dobra do tempo
Ele haverá de contar-me
O que me fora dito, e,
Que na caminhada, esqueci!

Sei apenas que espero
Um reencontro com o passado
Onde antigos débitos
Deverão ser ressarcidos
Tenho seguido esta busca
Por veredas intermináveis!

Abri minha vida,
Forrei minha cama,
Cuidei do cansaço
Reparti meu pão mas
Permaneço em desencanto.

O futuro - o sonho -
Sugou meu corpo,
Encolheu minh'alma,
É desesperança...
Não se realizou!

(Delasnieve Daspet)

segunda-feira, julho 16, 2007

Escutatória

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios.

Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas.).
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.

Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.

Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer:
"Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde
não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

(Rubem Alves)

quinta-feira, julho 12, 2007

É preciso ser alegre

A alegria pura é uma necessidade do espírito,uma carência do teu interior, do teu progredir.

O teu ser se desenvolve todo quando a alegria está dentro de ti,vibrando e atingindo objetivos.

No entanto, se a trancas, o teu ser entra em colapso, e as disposições mórbidas encontram curso livre para impor desacertos e doenças.

O teu destino é ser feliz, mas, se não te conduzes bem, permites que forças negativas se apoderem do espaço destinado à tua alegria, preenchendo-o com aborrecimentos.

Alegra-te com a vida.

A alegria te faz bem.

Ser alegre é deixar a felicidade apoderar-se do coração.

(Lourival Lop)

segunda-feira, julho 09, 2007

A união faz a diferença

Houve uma reunião em uma marcenaria, onde as ferramentas juntaram-se para acertar suas diferenças.

O martelo estava exercendo a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria que renunciar.

A causa? Fazia demasiado barulho e além do mais passava todo tempo golpeando.

O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o Parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque o parafuso concordou, mas por sua vez pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.

A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse o metro, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fora o único perfeito.

Nesse momento entrou o marceneiro, juntou todos e iniciou o seu trabalho.

Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel.

Quando a marcenaria ficou novamente sem ninguém, a assembléia recomeçou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:

- Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o marceneiro trabalha com nossas qualidades, ressaltando nossos pontos valiosos.

- Assim, não pensemos em nossos pontos fracos e concentremo-nos em nossos pontos fortes. Então a assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limpar e afinar asperezas e o metro era preciso e exato.

Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir belos móveis da mais alta qualidade e uma grande alegria tomou conta de todos pela oportunidade de trabalhar juntos.

O mesmo ocorre com os seres humanos. Basta observar. Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e negativa. Ao contrario, quando se busca com sinceridade os pontos fortes dos outros, florescem as melhores conquistas humanas.

É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas encontrar qualidades...

Isto é para os sábios!!!


(autor desconhecido)

sábado, julho 07, 2007

Mulheres Apaixonadas

O que as pessoas são capazes de fazer por uma paixão?
Tudo? Bem, praticamente tudo.

Os apaixonados vivem em outra dimensão, e só se entendem com pessoas também apaixonadas.

Alguém, em seu estado normal, pode entender que no tempo em que ainda não havia telefone celular - outro dia, aliás -, havia quem passasse o dia inteiro em casa, porque ele podia telefonar? E pior: sem poder falar no telefone, para não ocupar a linha? Pois fale com qualquer mulher da época pré-celular, e ela terá muitas histórias para contar sobre - todas ab-so-lu-ta-men-te iguais.

Porque as mulheres, quando se apaixonam, são todas iguais; se você der corda, são capazes de passar horas contando como ele é, o que falou, em que tom, como era o olhar, e perguntando o que você acha. Experimente perguntar à sua amiga como foi que eles se conheceram, como tudo começou. E pode pegar um livro, disfarçadamente, pois ela vai falar durante horas, sem que você precise dizer uma só palavra.

Elas pegam um avião - sem nenhuma condição financeira -, para encontrar o amado em outro continente e passar uma noite, só uma, com ele. É capaz também de pegar um avião para uma cidade distante só para telefonar de lá, fazendo todos os charmes. Ela mente para o chefe com a cara mais inocente, e adoece a tia ou a mãe sem nenhum escrúpulo, arriscando a reputação e talvez o futuro, para ficar com ele mais algumas horas na manhã de segunda-feira.

A esperteza de uma mulher apaixonada não tem limites; se ele não é totalmente livre, digamos assim, ela é capaz de descobrir o nome da mulher, a profissão, o número do telefone do trabalho, os nomes e as idades dos filhos em mi-nu-tos. Se não têm dinheiro para fazer um lindo jantarzinho, elas se viram: são capazes de trocar um anel de ouro por uma garrafa de uísque, uma bolsa por um buquê de flores, para criar um clima mais romântico, e o melhor: tudo dá sempre certo.

Para uma mulher apaixonada é fundamental ter uma amiga com poucos escrúpulos, muito tempo vago, hábil e capaz de fazer to-dos os papéis, se for preciso - e sempre é. É ela quem vai ligar à noite, disfarçando a voz e dizendo que é engano, para saber se ele está em casa ou não, é ela também que vai descolar quatro ingressos para ver a peça que sabe (conseguiu saber) que ele está louco para ver. Essa amiga é quem vai dizer, distraidamente, que há um homem louco por você, que manda flores todos os dias e quer levá-la para Nova Iorque, Paris, para a lua - e é riquíssimo, claro - e para fazer seu cartaz. Essa amiga é capaz de inventar qual-quer pretexto para dar uma festa, só para você poder usar seu vestido mais sexy - e poder convidá-lo, claro. Quem tem uma amiga assim tem tudo na vida, e se tiver um amigo - pois às vezes é preciso uma voz de homem -, aí é o paraíso. São raros esses amigos tão preciosos, mas que eles existem, existem.

Uma mulher apaixonada é capaz dos maiores desvarios; se o telefone dele estiver ocupado durante muito tempo ela começa a desconfiar, e é capaz de telefonar para aquela mulher de quem desconfia - e sabe o telefone de cor, claro; se o dela também estiver ocupado, é elementar: eles estão falando entre si, claro.

Ah, uma mulher apaixonada: por mais séria que seja, por mais responsável diante do mundo, vira uma doidivanas quando um homem consegue atingir seu coração.
Exemplo: se tem uma atuação na televisão consegue sempre encaixar uma palavra, nem que seja uma só, para que ele saiba que está pensando nele naquele momento - e isso é o mínimo do que é capaz.

Elas são maravilhosas, tão diferentes todas e tão iguais; e não existe nada melhor do que ver duas apaixonadas falando de seus amores. Aos 20, 30, 40, 50 ou 60, o papo entre duas adolescentes ou de duas mulheres várias vezes casadas e com vários filhos de vários maridos, não há uma só diferença.

E viva elas; afinal, não há maior estado de graça do que uma mulher profunda (ou mesmo superficialmente) apaixonada.

Se você tem uma ou duas amigas assim, aproveite para ficar bem perto e sentir o verdadeiro sentido da vida.

Aproveite mesmo, antes que passe a ambulância do manicômio e o enfermeiro, ouvindo aqueles desvarios, leve as duas e mande botar em camisa de força.

A única chance que elas têm de escapar é se o psiquiatra também estiver apaixonado; nesse caso, o papo vai se estender até o dia clarear.

A três, é claro.

P.S. O que seria do mundo sem as mulheres?

(Danuza Leão)

sexta-feira, julho 06, 2007

Memória


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, julho 03, 2007

Amor

Um homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho, para fazer um curativo na mão ferida.

Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso, e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com sua mulher que estava internada lá.

Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha um Alzeimer bastante avançado. Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde.

- Não, ele disse. Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece.

Estranhando, lhe perguntei:

- Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?

Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse:

- É . Ela não sabe quem eu sou, mas eu contudo sei muito bem quem é ela.

Meus olhos lacrimejaram enquanto ele saía e eu pensei:

Essa é a classe de amor que eu quero para a minha vida.

O verdadeiro amor não se reduz ao físico nem ao romântico.

O verdadeiro amor é a aceitação de tudo o que o outro é, do que foi, do que será e... do que já não é...".

(autor deconhecido)